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[Pobre de espírito]


Nem de propósito. No mês em que o «Eito Fora» comemorou o seu primeiro aniversário, deram-me a conhecê-lo, e como filha de Vila Pouca que sou tive a natural curiosidade de dar uma olhadela.

A páginas tantas, já convencida da sua qualidade gráfica e quase satisfeita com os textos que lia, deparei-me com um artigo de opinião: «SEXO ORAL» do senhor Fernando Gouveia. Neste artigo, recordando o referendo à lei do aborto, tece, de forma imatura e mesquinha, acusações à Igreja Católica, nomeadamente de só falar e nada fazer para que a educação sexual dos adolescentes (e não só pelos vistos) seja uma realidade. E chama demagogos (deve ser a palavra mais cara que conhece) aos defensores da vida humana.

Pobre de espírito e estéril de ideias! Quem tem acolhido as mães solteiras vítimas de abusos sexuais e filhas desta sociedade amoral e agonizante? Quem recebe de braços abertos os bebés e as crianças abandonadas à porta de uma igreja ou de uma instituição religiosa, vítimas da ignorância ou irresponsabilidade de "pais"? Quem se empenhou até agora em acolher mulheres que por qualquer motivo têm vendido o seu corpo a homens sem escrúpulos e imundos? Quem acolhe os jovens e dialoga com eles sobre as questões das suas vidas, esclarecendo-os de forma responsável e libertadora? Se isso é ser demagogo então a Igreja Católica tem orgulho em o ser.

Antes de abrir a boca ou pegar na caneta para expressar a sua ideia, qualquer pessoa minimamente responsável procura-se informar. E para acusar gratuitamente a Igreja Católica de nada fazer a respeito da educação sexual requer saber o que ela diz e faz. Aconselharia o senhor Fernando Gouveia a ler entre outros documentos o Concílio Vaticano II, a Doutrina Social da Igreja, o Catecismo da Igreja Católica, livros de Pastoral e de moral cristã sobre a sexualidade (por exemplo de Marciano Vidal, autor espanhol), mas como deve ser muito "puxado", aconselho-o a ler os actuais manuais de Educação Moral e Religiosa Católica (são mais acessíveis). Por exemplo, e para não ir mais longe, desde o 5º ano de escolaridade até ao 9º ano, não há um que não fale de educação sexual: no primeiro módulo do 5º ano estudam-se as normas biológicas e as diferenças entre o rapaz e a rapariga, no primeiro módulo do 6º ano aborda-se o tema do amor dos pais e da procriação; no primeiro módulo do 7º ano estuda-se a adolescência e a puberdade, com as alterações físicas, emocionais, psicológicas, intelectuais e sociais do corpo humano; no segundo módulo do 8º ano aprende-se a viver de forma salutar e verdadeira a amizade e o namoro, e no terceiro módulo reflecte-se sobre o tema da liberdade e da responsabilidade; no primeiro módulo do 9º ano estuda-se o tema do amor e da sexualidade, abordando também, e como não podia deixar de ser, o uso dos contraceptivos, o planeamento familiar, a paternidade e maternidade consciente e responsável, etc... Como pode constatar, sexo sim, mas com responsabilidade e consciência. Desculpem os caros leitores ter descido ao pormenor, mas não vá o senhor Fernando Gouveia pensar que a Igreja Católica é só demagoga. Lá pelo senhor Bispo de Viseu ainda não ter construído o «albergue para mulheres com gravidezes indesejadas» (questão que, pelos vistos, faz perder horas de sono a este senhor), não quer dizer que não existam já alguns pelo país e que a igreja não faça nada.

É certo que é preciso fazer ainda muito para que o aborto seja apenas uma palavra de dicionário e para que a educação sexual chegue a todas as pessoas. A Igreja desde há muito está empenhada nisso mesmo e muito mais fará com a ajuda de todos os que querem verdadeiramente tornar a nossa sociedade mais madura e mais responsável. Entretanto, não é com artigos críticos e derrotistas que chegamos a algum lado, pois como o nosso povo costuma dizer: «quem muito fala pouco acerta».

Termino desejando ao jornal «Eito Fora» um longo período de vida e ao senhor Fernando Gouveia boas leituras e investigações para que da próxima vez não diga tanta asneira. Mesmo assim, estão-lhe abertas as portas do Reino dos Céus, pois como Jesus Cristo disse: «bem aventurados os pobres de espírito, ...».

Ah, já me esquecia: sou mãe e professora estagiária de Educação Moral e Religiosa Católica, terminando este ano, se tudo correr bem, a licenciatura em Ciências Religiosas afim de trabalhar ainda mais na Igreja para o bem de todos. E não sou demagoga, sou cristã.


símbolo do jornal 'Eito Fora' Publicado originalmente no número 7 do jornal Eito Fora, de Abril/Maio de 1999. voltar à página inicial

© 1999 Il.ma Sr.ª Dr.ª Sandra C. Alegre
(reproduzido aqui sem autorização, mas — estamos certos — com total concordância)

Todo o Verdadeiro Cristão é exortado a divulgar este texto, no respeito pela Doutrina da Santa Madre Igreja e pelas tradições multisseculares da Igreja Católica Portuguesa. Roga-se — no entanto — o obséquio de dar o devido crédito à autora do mesmo, Ilma. Sr.ª Dr.ª Sandra C. Alegre. Este site é uma paródia. Monsenhor Agapito Laranjeira é uma personagem de ficção criada por Fernando Gouveia (http://secretarea.8m.com/). Sandra C. Alegre e o seu texto são, no entanto, bem reais.